Se você é um vaper como eu, provavelmente já ouviu falar que os cigarros eletrônicos são tão prejudiciais (ou até mais) do que um cigarro convencional. Eu entendo esse sentimento de desconfiança, afinal, já pensei da mesma forma. Mas, depois de pesquisar o que a ciência diz sobre o assunto, comecei a repensar minhas crenças.
Como conheci o vapor
(e tudo o que eu sabia na época)
Quando eu conheci o mundo do “vape”, lá por meados de 2016, eu tinha apenas duas informações sobre a nova tecnologia: que ela seria uma alternativa para quem deseja parar de fumar e que havia sido proibida pela ANVISA no Brasil em 2009. Mesmo assim, decidi experimentar para ver se funcionava. Na época, eu estava completando um ano daquela dança agoniante que é tentar parar de fumar.
Lembro de ter lido a RESOLUÇÃO Nº 46, DE 28 DE AGOSTO DE 2009 – ANVISA, e ter me chamado a atenção o trecho que precede a proibição da venda e da publicidade dos cigarros eletrônicos. Ele dizia, na íntegra:
“Considerando a inexistência de dados científicos que comprovem a eficiência, a eficácia e a segurança no uso e manuseio de quaisquer dispositivos eletrônicos para fumar, conhecidos como cigarro eletrônico, em face do Princípio da Precaução, adota-se a seguinte resolução” (RDC 46, ANVISA).
Era uma medida acertada para 2009, quando pouco se sabia sobre os cigarros eletrônicos. Mas, já estávamos 2017, oito anos após a resolução e fiquei curioso em entender o que outros países estavam fazendo sobre o assunto. Foi então que descobri o que o sistema de saúde do Reino Unido, considerado o melhor do mundo estava fazendo em relação aos e-cigs
O que a ciência diz a respeito
(os links com as fontes são cortesia da casa – apreciem sem moderação)
Em 2015, o Public Health England (PHE), o órgão governamental responsável pela saúde pública no Reino Unido, divulgou um relatório que afirmava que os cigarros eletrônicos eram 95% menos prejudiciais do que os cigarros tradicionais (link para o relatório de 2015). Esse relatório foi baseado em uma análise extensiva de estudos científicos sobre o assunto.
O PHE não parou por aí. Em 2018, eles lançaram um novo relatório que afirmava que os cigarros eletrônicos são “melhores do que os cigarros convencionais” e que eles poderiam ajudar até 50.000 pessoas a parar de fumar a cada ano (link para o relatório de 2018).
Um dos motivos pelos quais os cigarros eletrônicos são considerados menos prejudiciais é porque eles não queimam tabaco, o que significa que eles não emitem as mais de 7.000 substâncias químicas tóxicas presentes no cigarro tradicional. Em vez disso, eles aquecem uma solução líquida (o e-líquido ou mais conhecido apenas como “juice”) que pode conter nicotina, sabor e outros componentes.
Além disso, alguns estudos sugerem que os cigarros eletrônicos podem ser úteis para ajudar as pessoas a parar de fumar. Uma revisão de estudos publicada no Cochrane Library em 2016 descobriu que os cigarros eletrônicos poderiam ser mais eficazes do que outras abordagens de cessação do tabagismo, como adesivos de nicotina e terapias comportamentais.
É claro que os cigarros eletrônicos não são isentos de riscos. Eles ainda contêm nicotina, que é uma substância altamente viciante, e podem ter efeitos a longo prazo desconhecidos. No entanto, os estudos até o momento (inclusive os listados acima) sugerem que os riscos são significativamente menores do que os associados ao cigarro convencional.
Em resumo, o modelo britânico de saúde pública tem sido bastante favorável aos cigarros eletrônicos como uma alternativa menos prejudicial ao cigarro convencional.
A ciência tem apontado cada vez mais para a eficácia dos e-cigs como uma ferramenta para ajudar as pessoas a parar de fumar.
Vaporar é reduzir os danos do tabagismo
Com base nas informações divulgadas pelo sistema de saúde britânico, podemos afirmar que vaporar é uma alternativa muito mais segura do que fumar tabaco convencional. Isso porque a grande maioria dos danos causados pelo tabagismo está associada à combustão da matéria orgânica do cigarro, que libera uma série de substâncias tóxicas e carcinogênicas.
Nos cigarros eletrônicos, o aquecimento da solução líquida (conhecida como e-liquido) não ocorre por combustão, mas sim por meio de um processo de vaporização, que não produz essas mesmas substâncias tóxicas e carcinogênicas. Isso já é um indicativo de que vaporar pode sim reduzir os danos do tabagismo.
Além disso, o sistema de saúde britânico também ressalta que a nicotina, embora seja uma substância viciante, não é a principal responsável pelos efeitos danosos do tabagismo. Na verdade, a nicotina medicinal e o uso de terapias de reposição de nicotina são apoiados pelo SUS e de acordo com o IAR – International Agency for Research on Cancer, órgão ligado ao OMS, a nicotina medicinal, encontrada nesses produtos representam a alternativa mais segura aos produtos de tabaco.
Desse modo, a decisão de vaporar ou pode ser vista como uma questão de redução de danos, já que, para aqueles que não conseguem ou não querem parar de fumar, vaporar é uma alternativa muito mais segura e menos prejudicial do que o tabagismo convencional.
Para refletir: Se o SUS e a ANVISA aceitam o que a ciência diz a respeito das terapias de reposição de nicotina, por que não aceitam a ciência quando o assunto são os cigarros eletrônicos? Por que não podem seguir o exemplo do Reino Unido que tem o melhor sistema de saúde do mundo?
Regularize já!
Uma regulação justa em relação aos cigarros eletrônicos é benéfica para a sociedade, reduzindo a taxa de tabagismo e melhorando a saúde pública.
A regulamentação adequada pode garantir a segurança e eficácia dos produtos, além de proteger jovens e adolescentes dos possíveis riscos à saúde.
É fundamental que haja uma regulação equilibrada que leve em conta tanto a saúde pública quanto os direitos dos consumidores, garantindo o uso seguro e responsável dos cigarros eletrônicos.